sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Dia 12

É o dia mais difícil de relatar. Foi o mais movimentado com atividades fora de trabalho. Nunca comentei as atividades de trabalho, pois estas, na minha opinião, são restritas. Optei por mostrar o que se pode fazer fora do trabalho por quem não gosta de ficar internado em hotel ou pousada, bem como minhas impressões dos lugares por onde passei. Esta é a oportunidade para se conhecer as pessoas locais, saber como vivem, do que vivem, coletar impressões sobre a cidade e arredores, enfim, vivenciar momentos únicos de aprendizagem sobre a sociedade brasileira para além dos livros e telejornalecos de TV, que ultimamente se dedicam a dois temas. E esta viagem me propiciou bons momentos, apesar de estar sozinho. Infelizmente, um blog não suporta a quantidade de informações que gostaria de passar, além do que este não é o objetivo principal desta viagem.
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Acordei lá pelas 7 da manhã. Tomei banho e fui tomar café. A idéia fixa na minha cabeça era a de ir para Jericoacoara, um lugar espetacular aqui por perto, de moto. Iria pelas estradas vicinais de terra, passando por distritos pequeninos até chegar lá. No caminho, outras praias seriam visitadas. Ao todo seriam 3 em 70 km só de ida, mais ou menos. Seriam.

Saí de moto às 8 e meia e segui o caminho que tinha estudado pouco antes com as fotos que tirei de um mapa do transporte escolar local. Foi providencial, mesmo eu tendo me informado antes dos caminhos. Não existem mapas locais para vender em nenhuma banca.

No caminho de estradas de terra boas, às vezes com areia, fui me informando com os locais sobre onde ficava Aranaú, primeiro ponto de referência. Foi tranqüilo, apesar de ser longo o caminho por terra, com algumas bifurcações. Procurei memorizá-las, mesmo sabendo que, no caminho de volta, a percepção do caminho muda, assim como os pontos de referência. Afinal, não estava em estrada tradicional de asfalto, mas em estrada de terra desconhecida por mim. Pela estrada de asfalto seria bem mais rápido, mas não tão legal, claro. Também não teria o contato com a população local.

Chegando na sede do distrito, perguntei sobre o projeto de energia eólica que uma empresa, em parceria com o governo federal (assim entendi), está implantando por aquelas bandas. Me indicaram o caminho e segui para uma praia, que mais tarde descobriria ser a praia do Morgado. Perguntaram se eu era “bom de areia”, já que teria que andar de moto na praia até chegar na região onde estava se instalando o projeto. Eu só ri, mas fui.

Ao avistar uma pequena duna de areia branca que impedia a visão do mar, bem na frente do ponto final da estrada, fiquei preocupado. Ao lado de algumas barracas de madeira fechadas, deixei a moto e escalei a duna de uns 10 metros de altura, mas relativamente larga. Lá de cima tive uma visão que gerou sentimentos conflitantes ao mesmo tempo. O mar verde e crispado era lindo. O rio pequeno que corria ao longo da praia e desembocava no mar logo adiante era parecido com os vários que já tinha visto no sul da Bahia: marrom claro mas cristalino. A areia escura, cor de chumbo, não dava uma boa impressão. Mas o que me impressionou mesmo foram os tocos de um manguezal destruído entre as dunas e o rio. A combinação do vento fortíssimo, o mar de tocos antes do rio e a cor da areia (cor de manguezal) dava ao local um aspecto de terra destruída, arrasada, muito embora o mar logo ali adiante fosse lindo. Sensação estranha.

Depois de alguns minutos, comecei a procurar entre as dunas caminhos de passagem. Para ir aonde queria, precisava andar pela praia e pelos tocos de mangue por alguns quilômetros. Enquanto observava, um motoboy local veio pela praia e entrou numa “fresta” de dunas e saiu ao lado das barracas, andando pelo laguinho seco que havia por ali. Fiz o mesmo no sentido inverso e saí na praia. Segui adiante com cuidado, pois os tocos mais finos poderiam furar o pneu da moto. Mais adiante os tocos terminaram, bem no trecho onde o rio desembocava no mar. Restava o vento, a praia escura e o mar verde.

Andei alguns quilômetros, passei pelas obras do projeto sem saber naquele momento (fui descobrir na volta, por outro caminho). Do outro lado, havia somente montes de areia remexida. A vegetação fora cortada. Alguns barcos de pescadores e armadilhas de pesca lembravam a atividade de sobrevivência dos habitantes mais antigos. Por falar nisso, neste município não vi nenhum pescador com a minha idade. Todos sempre mais velhos. Segui até um riacho de cheiro ruim que desembocava no mar. Esgoto das localidades ou dejetos de tanques de criação de camarão, atividade que costuma gerar renda para as populações locais e destruição onde se instala. Desapontado, resolvi voltar. Não achei o que procurava: aqueles equipamentos eólicos que lembram hélices de avião gigantes. Mal sabia eu que tudo estava em fase inicial de construção e que até já havia passado do local que procurava...

Voltei para a estrada e segui rumo à localidade de Castelhanos. Me surpreendeu positivamente a sede de Aranaú, asfaltada e organizada para uma localidadezinha do gênero. Aliás, por todo o caminho não cheguei a ver casas ruins, caindo aos pedaços, sem reboco, como é comum no interior de Goiás, por exemplo. As casinhas eram pequenas, muito simples, mas minimamente arrumadas, ao menos por fora.

Mais adiante, em Carrapateiras, há duas lagoas de água doce, uma de cada lado da estrada, de cor verde claro. Sei que é de água doce porque, na volta, resolvi tomar um banho em uma delas. Bem rasinhas, limpas e com temperatura deliciosa, este banho foi providencial. Fiquei uns 15 minutos por lá. As pessoas que passavam pela estrada me olhavam com surpresa. Só pescadores entram nas águas. Não há o hábito de se refrescar em lagoas ou no mar, até porque este, pelo que vi, é muito difícil de se chegar a pé e me deu a impressão de ser violento por ser muito açoitado pelos fortes ventos.

Por fim, cheguei a Castelhanos. Fiz a milésima pergunta sobre caminhos, desta vez querendo saber como se chegava à praia do Preá. Segui por mais uns quilômetros até outra vila que não sei o nome. A essa altura já havia passado por algumas caminhonetes e jipes importados. Nesta vila vi um sujeito de quadriciclo, uma oficina de bugues e dois postos de gasolina. Não vi pousadas e nem lanchonetes. Era apenas uma vilazinha.

Em cinco minutos a última casa passava pelo meu lado direito e as ruas de barro tornavam-se trilhas de areia numa planície de grama verde musgo bem baixinha espalhada na planície. À frente, bem ao fundo do horizonte, dunas gigantes. Andei por quilômetros neste cenário. Mas na areia, com a moto que eu tinha e a minha inexperiência, a coisa não dava muito certo. Mesmo assim, segui em frente. Num certo momento, resolvi andar pela grama rala, já que esta propiciava mais tração para a moto, embora fosse mais irregular. O terreno ora aplainava, ora se acidentava. Cheguei até onde pude, onde acabava a grama e começavam as dunas altas. Via o mar próximo, mas não havia como chegar lá, a não ser a pé. Mesmo um pouco distante, percebi que havia animais pastando na praia. Já tinha percebido que a grama, na verdade, era um grande pasto para gado, pois estava cheio de cocô de vaca. No meu campo de visão, contei meia dúzia de palmeiras ao me redor. E só.

Neste lugar eu fiquei com uma sensação de estar num deserto. Era um lugar bonito, mas muito diferente do que sequer tinha imaginado. Além do mais, as dificuldades de andar de moto eram grandes, mesmo tendo uma moto mais ou menos preparada para o off road. Caso ela quebrasse, no máximo eu teria que andar carregando-a até o povoado. Ia ser complicado, demorado, mas perfeitamente possível. Pensando nisso, mesmo com Jericoacoara a menos de 10 km, resolvi voltar deste ponto. Pude fazê-lo com mais calma, afinal, ainda eram 11 da manhã.

A volta foi mais tranqüila. Já sabia o caminho. Mesmo assim, como havia previsto, tive a sensação de não ter passado por alguns lugares. Tomei o banho na lagoa, entrei por outro caminho para ver o projeto eólico em construção e entrei em Aranaú. Perguntando como sair de lá para Acaraú, um senhor me indicou outro caminho, diferente do que tinha feito na ida. Era de asfalto. Eu segui este caminho, até porque havia sido informado no dia anterior que existia um caminho por estrada de asfalto até Aranaú. No fim das contas, seria mais um para eu conhecer e, provavelmente mais rápido. Dito e feito.

Pude fotografar alguns lugares que não tinha fotografado na ida. Mesmo assim cheguei em Acaraú ao meio-dia e meio. Fui direto a um restaurante bem legal na entrada da cidade. À 1 e meia estava chegando ao hotel para descansar. À noite dei uma última volta pela cidade.

Minha volta a Brasília começará com a saída marcada para as 8 horas da manhã daqui. Devo chegar entre 10 e meia e 11 horas da manã. Meu vôo está marcado para as 13 horas e 10 minutos.

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Minha idéia com este blog foi passar um pouco desta minha viagem de trabalho em campo. Foi minha primeira experiência e, confesso, achei bem interessante. Achei que haveria problemas de comunicação via internet, mas não ocorreu. Também achei que me tomaria muito tempo. Isso ocorreu. Talvez se estivesse com outra pessoa eu tivesse mais dificuldades neste aspecto, muito embora ficasse mais rico, mais interessante (eu acho). Espero ter atingido meus objetivos.

Obrigado pela visita!

Reinaldo

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Nota:

O dia 12 vem amanhã cedo do aeroporto de Fortaleza. Problemas de superlotação de cybercafés - que não servam nem água - na cidade. Ao meio-dia já deve estar no ar, assim como eu na hora seguinte.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Dia 11

O dia de hoje começou como sendo o último dia de trabalhos de coleta de dados nas prefeituras. E acabou assim. Às 2 da tarde os dados já estavam coletados, restando apenas alguns ajustes na formatação de algumas tabelas e nomenclatura de fotos. Sendo assim, iniciei a série de visitas a lugares um pouco mais distantes: fui a uma praia. Mas não é uma praia como estou acostumado a freqüentar.

Levantei às 7 e meia da manhã. Dei-me a esse luxo porque só faltavam alguns detalhes nas planilhas dos municípios para entendimento. Não precisava chegar muito cedo. No entanto, com o andar da carruagem na Secretaria, percebi que as coisas eram um pouquinho mais complicadas. Mas tudo bem... isso acontece neste tipo de trabalho. Por mais que as coisas estejam quase certas, numa pesquisa de campo isso pode significar que nunca ficarão do jeito que se gostaria que ficasse. Ossos do ofício.

Às 2 da tarde havia terminado o trabalho, já no refeitório do hotel (usei as mesas de lá para não ficar enclausurado nem no meu quarto e nem na Secretaria). Fui direto pegar a moto e dar umas voltas pelas redondezas. Destino: praia de Arpoeiras.

O caminho até essa praia é por uma rodovia estreita, diria uma estrada vicinal asfaltada. Tem uns 10 km e é muito boa. A vegetação é verde e rasteira, com solo arenoso de tom branco acastanhado. Parece muito com vegetação de restinga. Há algumas casas simples na beira da estrada. Também passei por duas escolas estaduais. No quilômetro 8 o caminho para a praia muda. Entrei numa estradinha de terra após a caixa d’água do povoado. Segui sempre em frente.

Nas margens da estrada de terra surgem manguezais em lagoas grandes porém secas. Mais tarde fiquei sabendo que, quando a maré enche muito, essas lagoas também se enchem. Entrecortando os mangues, há residências simples e até uma pousadinha. No fim da estrada começam as casas de temporada (bem poucas). Termina na areia da praia, perto das barraquinhas pertencentes a pequenos bares.

Essa praia, como já havia sido informado, é uma das praias mais secas do Brasil. Isso quer dizer que quando a maré está na vazante, ou baixando, a distância entre a água e a parte de areia permanente no ponto de máximo de vazante chega a 3 km (três quilômetros!). Quando estive lá, o mar estava começando a baixar. Andei só algumas centenas de metros. Desnecessário dizer que a água e a areia são limpíssimos...

Outro aspecto desta praia e também da cidade de Acaraú: venta muito por aqui. Quem conhece Prado – BA sabe do que estou falando. Mas aqui venta mais forte. Em Brasília não há vento como os que estou tentando descrever. E descrever vento é um tanto quanto complicado... Enfim, o diabo do vento é fortíssimo e na praia é ainda pior. Só que, ao menos, não é frio e nem quente (esse é outro ponto difícil de descrever), é simplesmente agradável.

As barraquinhas também são diferenciadas. Por causa do vento, elas são cobertas com palha e têm também duas paredes deste material, justamente por onde sobre o vento. Dessa forma, no interior da barraca sopra no máximo uma brisazinha deliciosa. O ambiente é rústico: há redes de cordas feitas a mão a mesas de madeira com cadeiras de madeira e plástico. A uns 20 metros se encontram os bares-casas respectivos de cada barraca.

Conversei com a esposa do dona da barraca onde fiquei por umas 2 horas. A senhora de uns 60 anos, natural da região, me disse, entre outras coisas, que o mar está subindo cada vez mais. É um fenômeno que se observa em outras regiões do Nordeste. Ela me apontou um lugar onde “já teve casa”. E estava bem longe este lugar, mais apropriadamente no que minha vista identificou como meio do mar. Outro ponto dito pela senhora, que achou que eu tinha 25 anos (ponto para ela!): os peixes estão acabando, ao ponto de pescadores passarem o dia no mar e não conseguirem pescar absolutamente nada. “Há algo de podre no Reino da Dinamarca”, como reza o ditado...

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Seguem algumas fotos sobre Acaraú. Por falar nisso, uma palhinha sobre a cidade. Curiosamente, é uma cidade litorânea sem ter uma “praia do centro”, ou da “zona sul”, ou de onde quer que seja. A cidade foi formada longe do mar, talvez pelos motivos já descritos. Na faixa mais perto do mar residem pescadores e pouquíssimas casas de veraneio. Isso não quer dizer que ninguém venha para cá no carnaval ou no fim do ano. Vêm sim, mas a estrutura de turismo é precária. Fora essa praia, existem outras, mais distantes, mais freqüentadas nesses períodos e mais bonitas. Uma delas é bem famosa: Jericoacoara. Pode ser que amanhã à noite eu tenha notícias de lá e de outros lugares próximos.
Dia 10

Hoje acordei às 6 e meia. Cedo demais, como pude constatar meia hora adiante. É que o expediente da Secretaria de Educação de Acaraú começa às 8. Um pouco tarde para os padrões das outras cidades. Mas podia ser pior, afinal, este horário de trabalho foi implantado a pouco tempo. Ao invés de ser corrido (8 da manhã às 2 da tarde), o expediente era de oito horas com uma hora de almoço. Na verdade, não me lembro de ter estado em uma cidade nos últimos dois anos de pesquisa de campo que não tenha turno de horário corrido.

Fui trabalhar pela manhã e fiquei por conta disso até ao meio dia e meio. Depois fui almoçar num pequeno restaurante na rua da quadra imediatamente adiante ao hotel. A comida é a de costume, desde Crateús: arroz, feijão marrom(ou baião de dois, ou mesmo arroz e feijão e baião de dois), feijão de corda (infelizmente nem sempre, mas pode vir junto com o feijão comum), macarrão (come-se muito macarrão por aqui, sempre do tipo spaghetti sem molho, como se fosse um acompanhamento), salada (em geral de batata e cenoura cozida, cebola alface e tomate), salada de maionese (quase sempre, mesmo que haja a outra salada) e, finalmente os pratos principais, de acordo com a escolha do freguês: carne de gado (como dito aqui), galinha (às vezes aparece uma galinha caipira) ou frango, carne de porco (comi umas muito boas) e peixe (onde tem açude grande tem peixe no cardápio). Em geral os pratos são bem servidos e baratos para os padrões de Brasília, o que, convenhamos, não é muito difícil de acontecer...

Uma nota curiosa, pelo menos para mim: as pessoas que observei nos restaurantes por que passei, conhecidas minhas ou não, comem muito molho inglês, mais do que pimenta, por exemplo. Este é um tempero que sequer vejo nas mesas dos lugares que freqüento em BsB... ou será que nunca tinha reparado? Vou ficar mais atento quando voltar.

Depois do almoço fui trabalhar alguns dados na sala de jantar do hotel. Lá pelas 4 da tarde fui tratar de arrumar algum meio que me desse mobilidade para conhecer os lugares mais distantes do centro da cidade. Já tinha procurado e achado no dia anterior quem poderia alugar uma moto. Entre idas e vindas até a casa do sujeito, consegui alugar uma. Foi pegar a moto, encher o tanque e sair pela cidade e depois por uma rodovia aqui por perto para começar a conhecer a região. Não fui muito longe. Rodei apenas uns 30 km ao todo, muito embora já tenha uma boa idéia de como é a cidade e as rodovias aqui por perto.

Amanhã depois do trabalho vou organizar minhas visitas aos arredores de Acaraú. E fotografar a cidade. Que saudade de andar de moto!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Dia 09

Este foi o dia que tive que acordar mais cedo: 5 e meia da manhã. Às 6 já estava na estrada. Também foi o dia em que mais viajei. Foram cerca de 300 km ao todo nos trechos Varjota – Coreaú e Coreaú – Acaraú, com pequena escala de reconhecimento em Sobral pela manhãzinha. Não podia deixar de conhecer, mesmo que por alto, a maior cidade da região.

Chegando em Coreaú iniciei prontamente os trabalhos na Secretaria de Educação municipal. Pouco depois da 1 hora da tarde eu, as duas senhoras da regional estadual de ensino e mais um dos funcionários da secretaria chegamos para almoçar num restaurante simples mas simpático. Era grande e bastante ventilado, requisito essencial para quem não possui equipamento de ar-condicionado. Qualquer lugar fechado sem refrigeração ou ventilação natural abundante torna-se uma sauna em questão de minutos. Isso inclui o carro, naturalmente...

Após o almoço, segui direto para Acaraú. Seria mais 1 hora e meia de viagem por estradas de mesmas características das anteriores. A paisagem também não mudou até a uns 30 km da entrada da cidade. A partir daí, os cajueiros passaram a dividir a paisagem lateral da estrada e o tom marrom-acinzentado passou para verde com manchas marrons. É justo dizer, porém, que a vegetação que hoje está nesse tom mais escuro e triste fica muito verde e densa na época de chuva, que está para começar mais ao sul (mês que vêm) e começará por aqui em janeiro, segundo um mototaxista local. O que não mudará certamente é o tamanho das árvores: possuem a altura aproximada das plantas retorcidas do cerrado, do cacaueiro adulto baiano, ou de uma carnaubazinha. A exceção é o cajueiro, claro. Aliás, há muitas carnaúbas por essa região e, juntamente com os cajueiros, ajudam a diversificar um pouco a paisagem, ainda mais agora que a época do caju está começando!

Em Acaraú fiz o procedimento de praxe: procurar alguém na Secretaria de Educação local e verificar se foi feita ou não a reserva em algum hotel ou pousada. Esse é um momento crítico, pois é comum haver problemas em reservas, seja por falha de quem deveria ter feito, seja por desatenção de alguém do hotel, por esquecimento, por desorganização de uma ou de outra parte, por má comunicação, enfim, há um leque de contratempos que podem ocorrer. Já aconteceu de tudo comigo em outras viagens. Por enquanto as coisas estão correndo bem.

Como o expediente estava marcado para o dia seguinte (hoje dia 21), fui andar pela cidade. Esta tem muitas ruas largas e me pareceu bem interessante. Não pude andar muito, já que estou sem um veículo para me deslocar nas horas vagas, mas já estou tentando melhorar esta situação. Talvez amanhã eu escreva algo mais interessante e com imagens mais bonitas. Dizem que há lugares lindos bem próximos daqui...
Vamos ver.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Dias 07 e 08

Dias 06 e 07 (leia-se sábado e domingo). Não há trabalho de coleta de dados nestes dias. É a oportunidade que o pesquisador tem de organizar seus arquivos e, principalmente, sua cabeça. Afinal, foram 5 municípios visitados em uma semana. São muitas coisas e pessoas diferentes todos os dias. É o que se chama de viver intensamente, desde que se dê a importância devida a cada um dos momentos vividos. Senão as coisas passam e, no final das contas, as lembranças acabam resumindo-se aos saguões dos aeroportos... que chato deve ser!!

No sábado pela manhã (hoje é domingo), fiquei no apartamento da pousada organizando melhor minhas coisas do trabalho, ouvindo música, enfim, descansando um pouco da correria dos últimos dias. À tarde fui a um cybercafé recém inaugurado, próximo à praça da igreja. Depois andei um pouquinho pela cidade e voltei para a pousada. O calor era muito forte e o ar condicionado do quarto me pareceu mais atraente que a cidade neste momento.

Lá pelas 7 da noite fui dar outra volta pela cidade. Encontrei algumas pessoas conhecidas na região da praça da igreja e fiquei por lá conversando até às 11 da noite. Dormi logo em seguida e acabei acordando sem querer na hora da corrida, 4 da manhã aqui e 5 em Brasília. Jamais que isso aconteceria em outra situação...

Hoje é domingo, dia de feira. Então, fui à feira. O sol, inclemente, não dava tréguas. Cheguei nas ruas onde as barraquinhas estavam montadas lá pelas 10 horas. É um pouco tarde para uma feira, mas essa ainda estava a pleno vapor. Talvez pela ausência de uma rua extensa na região central da cidade, a feira tinha forma de U, tomando 3 ruas do quarteirão central da cidade.

Esta era uma feira para vendas legumes, frutas, vegetais e produtos afins e não ocorre o mesmo que em outras feiras, ou seja, a venda de panelas, utensílios domésticos e quinquilharias em geral, como vi em São Sebastião – AL, por exemplo. As barraquinhas eram de madeira com uma cobertura de lona verde musgo. Deviam ter 1 metro e meio,no máximo, de comprimento, por 1 metro de largura. Havia ainda muita gente circulando entra as barraquinhas, aparentemente dispostas de forma desorganizada, muito próximas umas das outras, algumas bambas pelo calçamento de pedras irregulares das 3 ruas.

Outra coisa interessante típica de cidades pequenas: o comércio estava aberto. Pude reparar que 90% das lojas de todos os tipos de produtos estavam em pleno funcionamento. Mas, ao contrário da feira, vi muitas lojas vazias, principalmente as de eletrodomésticos.

Há muita gente circulando nas ruas de pedras de Varjota. Muitas bicicletas e, principalmente, muitas motos pequenas. Já estou começando a reconhecer as pessoas da cidade. Muito divertida essa sensação de proximidade em relação a um lugar tão distante em termos, sociais e culturais e distante fisicamente de onde moro.


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No domingo à tarde fui à beira do rio Pereirão, no balneário. Foi divertido, apesar de estar sozinho. Fui de mototaxi, que me cobrou 5 reais - uma fortuna na minha opinião.


Na volta, fiquei piruando uma carona de caminhonete ou caminhão, ambos lotados de gente da cidade. Acabou que quase presenciei uma trajédia. Este caminhão estava com a carroceria quase lotada de gente quando começou a andar para trás, de leve, numa pequena descida. A cara que estava mais perto da boléia até achou que o motorista estava engatando marcha-à-ré, mas não tinha ninguém ao volante. Eu, que estava encostado numa pilastra do bar só observando o movimento, percebi isso e saí correndo em direção ao caminhão. Quando estava pertinho ele parou de repente, e ficou num leve vai-e-vem, como se estivesse escorado em algo. De fato, foi o que aconteceu. Parou numa grande raiz de árvore. Por via das dúvidas, coloquei mais uma pedra grande no eixo da frente. Quando o motorista chegou, abriu a porta (que estava trancada) e notou que a alavanca de freio de mão estava posicionada para que o veículo ficasse sem o freio. Molecagem de algum menino, dizia ele, com cara de poucos amigos.


Bom... pelo menos consegui minha carona. Cheguei às 6 da tarde e fui dormir um pouco.


Mais tarde descobri que o final de semana em Varjota começa na missa de domingo! Fiquei impressionado com a quantidade de gente na Igreja da pracinha. Tinha gente do lado de fora conversando e esperando algo acontecer, como as pessoas ficam na porta de um show ou festa em Brasília. Como se estivessem esperando o evento ficar bom...


No momento em que acabou a missa, estava conversando com o pessoal que conheci na sexta. A pracinha se encheu de gente e aí começou o tradicional desfile de pessoas que já se cansaram de se ver. Mas foi muito legal presenciar este momento, a não ser pelo fato de parecer que eu estava com um holofote no meu pescoço, por motivos obvios... Depois, lá pelas 11 horas (de domingo!) ainda teve uma festinha do dia das bruxas: todos de preto e máscara, se possível.


Enfim, acho que vai ser difícil eu encontrar outro lugar do interior onde as coisas acontecem no domingo à noite... mas vou procurar, se puder!




sábado, 18 de outubro de 2008

Dia 06

Ontem foi o dia 06. Foi um dia divertido, mas também razoavelmente trabalhoso na parte da manhã.

Acordei como de praxe às 6 da manhã. Só que, desta vez, não levantei. Como na minha programação estava escrito que o horário de expediente nas secretarias de Varjota começava às 8, decidi enrolar um pouco. Neste dia também não tomei café... simplesmente estava sem fome.

Quando o meu relógio marcou 8 em ponto resolvi ligar para a Secretaria de Educação só para fazer um teste. Tinha quase certeza que ninguém ia atender. Afinal, ontem teve festa na cidade (mais tarde soube que a festa foi para metade da cidade). Estava errado. Três pessoas falaram comigo naquela ligação. Isso me fez crer que o expediente começava mais cedo nas secretarias, como é comum no Poder Executivo de cidades menores. Dessa vez eu estava certo.

Chegando no prédio onde se concentram as secretarias de governo, fui encaminhado para a Secretaria de Transportes: uma sala apertada ao lado de uma pequena garagem coberta no pátio do prédio, com espaço para dois ônibus nesta parte e mais alguns veículos na parte descoberta e de terra. Conversei com as pessoas que lá estavam sobre o trabalho a ser feito e eles me disseram que tinham boa parte dos dados no computador de uma das mesinhas de madeira daquela sala. Então pensei: “vai ser rápido”. Quando soube que o computador não tinha porta USB e nem gravadora de CD, o drive de disquete estava sem funcionar e a impressora era daquelas antigas e lentas, tristemente refiz meus pensamentos: “vai demorar uma eternidade”.

Ainda bem que eu estava errado novamente. Na verdade, fique trabalhando até às 2 horas da tarde, com uma hora de almoço. Depois disso, fui conhecer a cidade e algumas localidades bem agradáveis às margens do rio Pereirão (na verdade rio Acaraú, segundo fontes oficiais), acompanhado do responsável pelo transporte escolar municipal. Até este momento estava tudo marcado para eu seguir a Coreaú às 5 horas da tarde.

O rio Pereirão, ao contrário do que diz o nome, é um rio estreito e pouco profundo. Tem a largura de uma rua de entrequadra, se tanto. Ele surge da parede do açude Araras, cuja rodovia CE 366 passa por cima. Esse trecho lembra a barragem do lago Paranoá e a rodovia que passa por ela, só que é várias vezes mais extenso. O rio possui trechos pedregosos, como o que visitei numa propriedade transformada pelo dono em mini-balneário, com um boteco e mesas de sinuca às margens. Aliás, há outros balneários seguindo pelo rio. Fui ainda visitar mais um, pouco adiante no rio, com características diferentes: ao invés de pedras, mais parecia um grande poço de água corrente, com infra-estrutura aproximada ao anterior.

Nesse lugar conheci algumas pessoas que trabalham na prefeitura local. Fiquei conversando e aprendendo muito sobre a política local. Me surpreendi ao notar o quanto a vida das pessoas é influenciada nessa época de eleições municipais. Já tinha notado anteriormente que cada casa possuía uma bandeira vermelha ou amarela, de acordo com a preferência política, mas só ouvindo as pessoas conversando é que dá para se ter uma idéia da importância desse momento na vida dessa cidade. Acordos, mandos, desmandos, renúncias e otras cositas más passaram pelos meus ouvidos até às 8 e meia da noite.

Já deu para perceber que os planos de ir a Coreaú neste dia não vingaram. Achei melhor ficar o fim de semana por aqui para, pelo menos, lavar minhas roupas e sossegar um pouco. Além do mais, o lugar em que estou suporta minha estada por uns dias...

Mais tarde fui jantar num lugar de comida muito boa e com a família do responsável pelo transporte escolar no município. Enfim, lugar agradável com pessoas agradáveis, parodiando minha amiga Cristiane. Cearense, diga-se.

Fui dormir com muito calor às 11 horas da noite.
Dia 05

Cheguei a Varjota, de onde estou escrevendo neste momento. A luz deste quarto de pousada está tão fraquinha que precisei alterar a posição da tela do notebook para ver as teclas direito. Eu sou daqueles que precisa olhar para elas ao digitar. Até aqui o dia já foi longo...

As dificuldades começaram logo pela manhã, ou melhor, na noite anterior, com o empate terrível do Brasil com.... com... com quem mesmo? Deixa pra lá. Naquele momento estava trabalhando nos dados coletados em Ipueiras. Confesso que gostei de lá. Eu gosto de localidades interioranas. São mais humanas e conservam muito da memória e cultura popular já muito diluídas em cidades grandes. A relação das pessoas coma Igreja, Nossa Senhora de Fátima, a Estação de Trem, as praças... isso só do que vi e pude conversar com algumas pessoas da cidade e região.

Voltemos ao Dia do Professor. Acordei às 6 horas, tomei um banho e fui ao restaurante tomar café. Foi só abrir a porta. Meu quarto ficava literalmente a 4 metros da recepção, 3 dos computadores com internet e diretamente ligado ao restaurante, um salão grande no mezzanino de um prédio defronte a uma das avenidas da cidade, ainda na entrada dela.

Depois do café, fiquei esperando alguém da Secretaria Municipal de Educação me buscar para iniciar os trabalhos. Esperei demais. A pessoa chegou por volta de 8 e meia, o que é tarde para o tipo de trabalho que tinha (e tenho) a fazer nos municípios. No caminho, fui conversando e descobri que a coisa ia ser mais complicada do que imaginava. Quando soube que Santa Quitéria é o município de maior extensão territorial do Ceará eu senti frio por uns segundos em pleno sertão cearense. Mas trabalho de campo é assim mesmo: você nunca sabe exatamente o que vai acontecer daqui a cinco minutos, por mais que haja planejamento. Ainda mais neste tipo específico de coleta de dados. Eles não estão parados como as plantas ou visíveis como o solo. Estão escondidos em planilhas e na cabeça das pessoas...

Saí da Secretaria de Educação às 5 e meia da tarde. Fiquei numa sala ampla, sem forro, bem aberta e com uma parede de cobogós pintados de branco (comum nas escolinhas do Nordeste e do Norte). Como sabemos, os cobogós e as portas abertas só têm serventia se há circulação de muito ar. E esse não foi o caso. Trabalhei os dados desde as 9 da manhã. Não saí nem para almoçar e, confesso, pensei que ia sair mais tarde. Muitos dados... impressos que precisavam ser digitados!!

Foi o tempo de chegar ao hotel, pagar a conta e seguir direto a Varjota, o próximo município, este no qual encontro. Infelizmente não consegui sequer fotografar Santa Quitéria. Acho que lá deve ter algo mais que a padaria da Angélica, um boteco-padaria que as meninas da administração escolar municipal e estadual de Ipueiras jocosamente me disseram ser a opção de diversão local. Ainda assim, uma coisa me chamou a atenção: passei por uma praça pequena que tinha um Banco do Brasil e um Bradesco, ambos gigantescos. Em geral, o tamanho dos bancos é proporcional à quantidade de dinheiro que corre na região...

Cheguei logo, afinal, parece que por estas bandas andar a menos de 120 km\h é crime. Andar de moto com capacete também não deve ser aconselhável, ainda mais na cidade. Daí outro problema: para onde ir em Varjota? Tentei ligar para o contato local e nada. Fui então para a prefeitura buscar alguma informação, já que o motorista sabia ir para lá. O rapaz que estava na portaria me indicou a casa da senhora que seria meu contato por aqui. Chegando lá descobri que ela havia acabado de sair. “Foi dormir na serra”, conforme me disseram.

O jeito foi ficar numa pousada no posto de gasolina da entrada da cidade. Aqui não está ruim. Não é nada 5 estrelas, mas é arrumadinho. Na verdade, lembra um quarto de motel beem simplesinho. Não vi nenhum vestígio de estadas passadas por aqui. Então, ainda é achômetro.

A cidade está em festa. Festa de prefeito eleito, com direito a palco montado quase no meio da estrada que vira avenida, a uns 50 metros daqui. Imaginem o que vai tocar... imaginem se vou dormir!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Dia 04

Acordei às 6 horas da manhã. Ainda não está difícil acordar cedo, mas logo ficará. Quando isso acontecer, estarei voltando a Brasília. Quando se cria uma rotina temporária, com o perdão da contradição de sentidos, o cansaço chega depois, mas chega pesado.
Mas voltemos um pouco. Na noite anterior, ao sair do cybercafé que não serve nem água, fui dar uma volta na cidade novamente... passei pelos mesmos lugares algumas vezes, mas as pessoas estavam mudando. Fiquei sentado num bar de esquina e pude observar por algumas horas a rotina noturna da cidade, bem movimentada por sinal, pelo menos nas duas ou três quadras ao redor das pracinhas. Há também escolas na região, fator decisivo para a presença de muitos adolescentes na rua. Há muitas motos na cidade, como de praxe em cidades do interior e, ao que parece, especialmente no Ceará. Estavam todas na rua ontem...

No dia seguinte, o Dia do Professor, fui até à Secretaria de Educação de Ipueiras para mais um dia de coleta de dados. Surpreendi-me com com a quantidade de dados (mais do que o esperado), mas no fim deu tudo certo.

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O calor é mais forte em Ipueiras, apesar de já ter sido alertado de que as coisas podem piorar nesse sentido, muito embora a cidade fique muito próximo da Serra da Ibiapaba. A paisagem ao redor é linda, com aquele muro cinza-esverdeado imponente passando ao largo da cidade. Dá a im pressão de ser tão alto quanto bonito!

Na estrada, já indo a Santa Quitéria após o almoço, deu para perceber a gravidade deste alerta. Chegando a Hidrolândia, eu e o motorista avistamos cones bloqueando totalmente a estrada. Chegando mais perto, percebemos que, ao invés de bloqueio policial, era um bloqueio de adolescentes. E eles simplesmente fizeram o carro parar na frente deles. Com o carro parado, aproximou-se uma menina. Ela, com simplicidade, educação e muita simpatia pediu dinheiro para poder comprar material para construir cenários de sua companhia de teatro, que deveria estar em peso no piquete. Ela poderia ter pedido dinheiro para comprar água para lavar o asfalto que seria atendida por mim e pelo motorista do mesmo jeito. É aquela história: com jeito se consegue tudo... e com jeito e sinceridade se consegue tudo mais rápido...

Até amanhã, se tudo der certo!
Alguns comentários

1. Algo que pode ficar mais claro: o objetivo deste blog é passar as experiências extra-trabalho de uma viagem de coleta e dados em campo, que muitas vezes são melhores que o trabalho em si. Na verdade, desta coleta... cada trabalho é diferente do outro...

2. A arvorezinha que descrevi levemente ontem (aquela que tem galhos finos e secos na seca) chama-se jurema. Ela absorve e armazena muita água, além de eliminar quase todas as folhas na época de seca. Por isso é capaz de resistir ao calor intenso e à falta chuva;

3. Mais coisas sobre Ipueiras: há uma estação de trem pequenininha transformada em ilha digital. Não sei o que é isso exatamente, mas deve ser algo como um local para tornar realidade algum programa de inclusão digital municipal ou estadual. O fato é que a estação é muito bonita e parece ser bem cuidada! Mais adiante o trilho segue paralelo a uma avenida, com calçada entre eles e uma ciclovia também. As casinhas térreas, pequenas e parecidas dão o toque nostálgico ao local. A via férrea ainda é utilizada pelos trens de carga e no momento há um vagão solitário parado perto da estação;

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Dia 03

Hoje é o dia 03. Viajei de carro novamente, desta vez para Catunda. Percebi realmente como é o semi-árido. Já tinha visto a paisagem nas 6 horas de viagem a Crateús, mas hoje observei com mais calma. Árvores finas, secas e bem juntas umas das outras justificam com louvor as roupas e chapéus de couro dos cangaceiros de outrora. Me imaginei andando nesse mato sem estes aparatos e cheguei à conclusão de que seria impossível prosseguir 10 metros adentro.

Outra coisa que me chamou a atenção foram as verdadeiras capelas de beira de estrada construídas em homenagem às vítimas fatais. Algumas imensas, chegam a ter mais de dois metros de altura, com portão de ferro, com espaço para 3 pessoas lá dentro. Outras possuem cerquinhas em volta, como se fossem propriedades particulares (e não são?). E, mais impressionante, são dezenas e dezenas dessas construções azulejadas, em sua maioria na forma de uma mini capela, na beira das rodovias entre Fortaleza e a região de Crateús, das pequenas às imensas.

Chegando a Catunda, um município pequenininho, fui direto à Secretaria Estadual de Educação, onde também era esperado. O trabalho por lá foi rápido e sem maiores problemas, devido à organização local. Isso me permitiu sair logo de Catunda, não sem antes conhecer o prefeito recem-eleito do município (recém -eleito, reeleito, ou em fim de mandato? Preciso confirmar a informação), sempre ciceroneado pela representante da SEE-CE.

A viagem rumo a Ipueiras foi tranquila, mas o clima ficou mais quente ainda. Almocei num restaurante pequeno (culinária local, claro) e fui para a Secretaria de Educação do Município e de lá para o hotel em que estou hospedado. Dessa vez meu trabalho no hotel foi rápido e lá pelas 4 da tarde já havia terminado. Então saí para a cidade de mototaxi.

Andei pelo centro e, em 20 minutos, já havia rodado tudo... Apesar de pequena, a cidade é bastante agradável. Suas ruas centrais são de pedra que fazem lembrar cidades bem antigas. Há 3 praças centrais, sendo que uma delas tem uma igreja de tamanho médio mas muito bonita, com adornos em dourado. É uma igreja dedicada a Nossa Senhora de Fátima. Há também um portal sobre uma rua (lembra os arcos romanos), na cor azul claro, também em homenagem a Ela. Achei muito legal e original por estas paradas. No entanto, há algo muito aquém do original: um Cristo Redentor no alto de uma montanha, com uma escadaria e acesso.

Depois da óbvia sessão de fotos (não do Cristo), fui procurar uma loja de serviços de internet, aqui chamada de cybercafé, mesmo que não se sirva nem água de torneira... e cá estou escrevendo este post. No momento são 8 horas da noite. As ditas praças estão cheias e os alto-falantes dos postes da cidade estão tocando as músicas classificadas como axé e as ruas estão cheias. Vou dar mais uma voltinha para ver como estão as coisas... afinal, vou completar 3 horas de internet aqui.

Espero não demorar muito para escrever mais...




Dia 02

No Dia do Corintiano - se você não for um, procure saber qual é! - acordei cedo, antes das 6 e meia. O motorista foi me buscar às 7 e meia e eu já tinha tomado um café da manhã bem simples. O dia, claro, amanheceu quente para os padrões de Brasília, mas ameno para os padrões locais. Por esses dias, segundo informações, está ventando muito, o que ajuda a diminuir o calor. Repito: isso não vale para os padrões de Brasília.

Seguimos para a Regional Estadual de Ensino, onde o motorista foi embora e fui levado por uma funcionária até a Secretaria Municipal de Educação. Eu já era esperado por lá, o que facilitou muito minha vida. Fui recebido pelo responsável pelo transporte escolar municipal. Era umas 8 e pouco da manhã.

Bom... não vou falar do trabalho em si lá na Secretaria, por motivos óbvios. Apenas informo que foi muito trabalhoso mas bem tranquilo, ainda mais com a ajuda da representante da Secretaria Estadual de Educação do Ceará.

O fim dos trabalhos ocorreu lá pelas 4 da tarde, isto é, o fim dos trabalhos na Secretaria, o que não significa dizer que fiquei à toa o resto do dia. Tive ainda que formatar algumas tabelas na pousada, o que levou algumas horas. Até por isso, resolvi ficar em Crateús mesmo (seguindo o conselho da representante da SEE-CE), partindo para Catunda na manhãzinha do dia seguinte.

Fui jantar bem tarde. O trabalho na pousada seguia lento e minhas músicas já estavam acabando quando, de repente, o trabalho acabou primeiro! Aí enrolei, com a sensação de dever cumprido. Resultado: após o banho, quando saí para comer alguma coisa, já eram mais de 11 da noite. Fui na praça, desta vez vazia, com alguns gatos pingados nos quiosques. Abençoei o calorzinho que estava fazendo (estou me habituando), sentei defronte a uma TV grande na frente de um quiosque e assisti um pouco do filme do Supercine enquanto lanchava. Tomei um susto quando a TV simplesmente apagou. Me toquei que só tinha eu e dois caras jogando xadrez na praça, a uns 10 metros de mim. Paguei a conta e fui dormir.

A sensação de estar sozinho nestes momentos para mim é reconfortante. Talvez pela tranquilidade destes momentos, talvez pelo assalto do meu ego de mim mesmo, o fato é que adoro ficar assim por um tempo. Daí ocorre a mentalização de tudo o que se vê, sente e ouve no lugar diferente em que se está. Esse processo de formação e formatação da memória (pelo menos da minha) é o ganho em uma viagem de campo, incrementado pelas inúmeras conversas e situações incomuns (no ótimo sentido) a que se está exposto, também devidamente rememoriadas.

Pelo menos essa é minha impressão do que sinto...
O atrasadinho

Bom... esse título é em minha homenagem, já que havia me proposto a atulizar o blog diariamente. Minha inocência me espanta às vezes...
Minha intenção é passar um pouco das minhas impressões e sentimentos desta viagem de campo. Quem já foi um dia sabe que um trabalho esses é muito mais que uma coleta de dados para uma pesquisa. É uma "coleta de dados" para a "pesquisa da vida".

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Dia 01

Já no primeiro dia enfrentei ao todo 8 horas de viagem: 4 de avião, contando esperas e atrasos, e 6 de carro até Crateús. Isso porque o motorista, para evitar estrada ruim após Canindé, mudou o caminho. Em Santa Quitéria pegou o caminho errado e tivemos que seguir até Ipu, depois a Ipueiras (one estou agora), Nova Russas e Crateús. Devo ter esquecido alguma cidade, mas é que estou sem o mapa aqui... este mesmo que quebrou um galho já nessa viagem de ida. Também tivemos que apelar para as famosas perguntas aos transeuntes. Bem diferente do que estou (mal) acostumado aí pelo DF, todo mundo sabia muuito bem aonde estava! Parece óbvio, mas não é...

Cheguei lá pelas 8 da noite. Fiquei numa pousada bem simples, como era de se esperar, num quarto bem pequeno, mas tudo bem arrumado e limpo. Além disso, fui muito bem atendido. A pousada fica na região da praça central da cidade, onde há uma igreja imensa e bonita, vários quiosques de comida e bebida e um mini teatro de arena e muita área livre.

Havia uma programação intensa na praça quando saí do hotel, lá pelas 9. Estava totalmente tomada de messas, cadeiras e gente. Dia de Nossa Senhora Aparecida + Dia das Crianças = Dia de Festa: uma equação elementar nas cidades interioranas que eu goto muito. Tentei tirar fotos, ma as pessoas sabem na hora quando aparece um forasteiro. Muitos olhares me inibiram, mas tentei mesmo assim. Em vão: arrumei uma desculpa quando vi que as duas primeiras fotos ficaram muito escuras e desisti. Afinal, um estranho com uma máquina fotográfia chama um pouco mais de atenção do que um estranho sem a máquina (um pouco mesmo!).

Enfim, andei pela praça. Vi por uns instantes um concorrido showzinho de calouros no teatrinho e arena para crianças, os shows sertanejos de sempre num telão montado noutro extremo da praça, os quiosques lotados e, finalmente, uma pizzaria numa esquina da praça. Me pareceu interessante e resolvi jantar.

Sentei e pedi uma cerveja (a de sempre, para quem me conhece) e escolhi uma pizza. Tomei ela toda, sozinho, e nem sinal do meu pedido. 20 minutos... 25 minutos e ela apareceu. Ok, a casa estava lotada. Não deve ficar assim nem todos os feriados, daí o enrosco do pessoal da cozinha, garçons e o dono-garçon. Mais uma vez fui bem atendido e a pizza estava boa.

Depois disso fui para a pousada. Estava cansado e já pensava no dia seguinte. Em campo, mentalmente falando, o dia acaba cedo e começa mais cedo ainda, esteja você fazendo o que for. E, ainda por cima, há uma pressa em ver, ouvir e viver cada momento, não importa qual seja ele.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A sexta-feira anterior

Esse é um textinho de escriba de primeira viagem de blogs. Então, vou escrever alguma coisa só para ver como fica...

São 18:46 da noite aqui no Ceftru. Estou ao lado da Rejane e ela tá me forçando a trabalhar... o Crixx acabou de sair para o boteco e a Carlota tá aqui desesperada com o as atividades de encerramento do projeto.

Vamos ver como ficou...